ANTES DE DORMIR....









Poderia estar dormindo. mas os olhos teimam em permanecer abertos, como se quisesse viver tudo de uma só vez. E logo eu, que tenho tanto a fazer, tanto a construir. Eu que não me importo com as marcas profundas e escuras, abaixo do olhos, eu que já vivi horrores e plagiei alguns versos, eu que fui objeto da insanidade e descaso,quando um alguém perdeu sua lucidez.
Me deparei com meu rosto no espelho e não me reconheci: olhos cerrados, pele quase sem brilho,uma tristeza permanente que não queria ir embora.
Tão logo deparei com as palavras aos meus ouvidos,gritando como que não me deixassem esquecer,corri para a minha janela de onde lá, eu avisto a rua quieta, e sossegada. E busco na calçada a força das pedras  que se encerram nas esquinas.
Percebo que morrer é tão fácil, e matar, mais fácil ainda.
Mas sou tão turrona, que deixo pra lá estas fatalidades e enfrento a minha vontade de estar por aqui, até algum tempo mais.E deixo, para quem quiser o legado, viver morrendo a cada dia.
Tanto se ganha, quanto se perde nessa louca vida.O que se perde, guardamos no porão da memória, onde só nós podemos faxinar a alma, até.........até quando, não sei.
O que se ganha, vive ao nosso lado, inexplicavelmente bem cuidado.
Procurando entre as tralhas dos dias, percorri por palavras que escutei, que em sua maioria, foram ferramentas cortantes e dissimuladas. Não sei o que fazer com todas elas.Porão?
Fere cegamente o que demorei muito a construir: meu EU.
Tanto demorei para arquitetar minhas estruturas,meus acabamentos interiores, minha caiação espiritual, e sou o espelho da minha alma.Preciso de espaços....de grandes e faraônicos espaços, por que sou grande em pensamentos e palavras,e viajo nelas como se meu avião de enormes asas nunca parasse, nem pra abastecer.
Preciso das palavras. Quero ouvi-las, sentir em cada uma delas, uma denotação diferenciada da mesmice diária que se ouve por ai. Quero te-las em mim, e ouvi-las como se pulsassem em mim.
Poucos entenderão, e muitos não as pronunciarão.
fazer o que né?
Ir trilhando este caminho, que percorro em buscas....e paradas para um leve gole de água para matar a ausência e secura dos dias, e assim, antes de dormir, poder voar, com minhas borboletas pousadas em meus ombros.
E como diz Chico Buarque:
"deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa,e qualquer desatenção, faça não! Pode ser a gota d'agua."
Sandra

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